Lembro-me de uma experiência na faculdade. Era uma palestra de recrutamento de uma grande consultoria. Eles apresentaram um case e, ao final, abriram o microfone:
— “O que vocês recomendariam para o cliente?”
Fui o primeiro a levantar a mão e respondi:
— “Depende, qual é o objetivo da empresa?”
A sala se encheu de risos. Alguém gritou: “Lucro, né?” Todos riram, exceto o sócio da consultoria.
Para mim, na época, a pergunta parecia óbvia, mas, para ele, era uma questão de conhecimento estratégico. Ele explicou para todos que nem sempre o melhor movimento é simplesmente crescer ou aumentar o lucro.
Esse episódio me fez perceber que, ao longo do tempo, as empresas passam por “ondas” de estratégia, com táticas e objetivos que muitas vezes são adotados sem reflexão ou clareza. São os “paradigmas estratégicos”.
Abaixo, compartilho a minha leitura sobre a evolução dessas “ondas”:
Tabela 1: Evolução dos paradigmas estratégicos
Fase | Período Mais Ativo | Foco | Características | Principais Teóricos |
Onda 1 | 1920-1950 | Produção | Eficiência operacional | Taylor, Ford |
Onda 2 | 1950-1970 | Customer-Centric | Atender às necessidades do cliente | Drucker, Levitt |
Onda 3 | 1980-2000 | Posicionamento | Diferenciação competitiva | Ries, Porter |
Onda 4 | 2000-atual | “Growth at all Costs” | Alcançar market share rapidamente | Vale do Silício |
Onda 5 | futuro | Valor Compartilhado | Integração com a sociedade e sustentabilidade | Porter, Kramer, Kotler |
Surfar as Ondas: Um Desafio Cumulativo
Seria fácil se bastasse encontrar a “onda” estratégica do momento e apenas surfar nela. No entanto, essas ondas não são isoladas; elas se acumulam. Para uma empresa tirar proveito da abordagem centrada no consumidor, por exemplo, ela precisa antes dominar a eficiência operacional. E assim por diante. O desafio está em integrar essas fases ao longo do tempo, sem pular etapas.
Além disso, vale ressaltar que diferentes segmentos estão em momentos distintos dessa jornada estratégica. Por exemplo, a indústria de bens de consumo está muito mais avançada do que o mercado B2B, que ainda está nas primeiras ondas.
Muitas empresas tentaram surfar uma onda sem dominar as fases anteriores e pagaram o preço por isso. Vimos marcas crescerem rapidamente, apenas para desaparecer da noite para o dia.
O Poder do Reposicionamento
Eu sou particularmente apaixonado pela onda do reposicionamento, pois ele representa o ponto de inflexão para muitas empresas. É o momento em que elas se reorganizam, redefinem seu foco e se preparam para escalar exponencialmente.
Essa reflexão é crucial para todas as empresas: será que sua organização já está pronta para surfar a onda do momento?